quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Diário Catarinense - Variedades/Cinema | 20.11.2008

Muito além da classificação
FilmeFobia, de Kiko Goifman, e o catarinense Ouroboro, de Maurício Antonângelo, em exibição no Festival de Brasília


O esperado e estranhíssimo FilmeFobia é o longa de hoje da mostra competitiva, no 41º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. É ao mesmo tempo metacinema, ficção e documentário, e contraria qualquer classificação de gênero. O filme de Kiko Goifman, São Paulo, é uma experiência narrativa que começa pela própria escolha do protagonista, interpretado pelo crítico Jean-Claude Bernardet, um dos principais estudiosos de cinema do Brasil. Bernardet vive Jean Claude, um cineasta que faz um filme sobre a reação dos homens diante de seus medos.

E são várias as fobias na tela: medo de aranha, de avião, de cobra, de sangue, de agulha, de penetração, de botões... Jean Claude, o personagem-diretor dentro do filme de Goifman, explora os limites psicológicos, contrapondo a fobia das pessoas com situações fortes e emocionalmente violentas. A proposta do personagem é demonstrar que a única imagem verdadeiramente autêntica, real e convincente é a de um ser humano em contato com a sua própria fobia.

"Os gestos erráticos, desesperados e fora de controle dos fóbicos trariam a verdade da imagem", acredita o diretor dentro do filme. FilmeFobia é uma espécie de making of de Jean Claude em sua experiência sobre o medo. A estréia internacional do longa aconteceu no 61º Festival Internacional de Locarno, em agosto de 2008, na Competição Oficial Cineastas do Presente, onde foi bastante aplaudido. O documentarista Kiko Goifman é também antropólogo e autor do livro e CD-ROM Valetes em Slow-motion. O tema central do trabalho é a noção de tempo no cotidiano carcerário.

Na mostra competitiva 16mm será exibido hoje o curta catarinense Ouroboro, de Maurício Antonângelo, ex-aluno da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e onde ele produziu o trabalho em 2008, no curso de cinema. Maurício confirmou sua presença na sessão, que ocorre a partir das 14h30min na sala Martins Pena do Teatro Nacional Claudio Fontoro. O filme levou os prêmios Sindicine de melhor roteiro e de melhor fotografia no Florianópolis Audiovisual Mercosul deste ano.

Ouroboro designa a serpente que morde a própria cauda num movimento circular. É um símbolo milenar, presente em várias culturas, e com múltiplas interpretações. A versão de Antonângelo é sobre a continuidade da vida, sobre a autofecundação. No filme, há uma relação incestuosa e sadomasoquista entre mãe e filho. Em tom de suspense, o filme traz referências implícitas ao livro O Erotismo, de Georges Bataille.

*Repórter viajou a convite da organização do festival

JEFERSON LIMA* | Brasília

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